quinta-feira, 2 de julho de 2015

CARTA AOS QUE SOFREM


Deus mudou dramatica-mente a vida de Pedro. A simples menção de seu nome nos remete à cena da negação. De fato, ele era apenas Pedro; homem como qualquer outro. Capaz de fazer promessas mas incapaz de cumprí-las. Porém, Deus o amou e não desistiu dele. Jesus restaurou o relacionamento de Pedro com Deus e seu chamado para ser pescador de homens foi legitimado no episódio ocorrido na festa de Pentecostes, onde, por sua pregação centenas e centenas de pessoas decidiram entregar suas vidas a Cristo.

Quando começamos e ler a primeira epístola desse apóstolo percebemos como ele havia mudado. De negador de Jesus a um incentivador da fé dos irmãos que estavam sofrendo por causa do nome de Jesus.
No contexto de sua carta o governo Romano não estava mais tolerando o cristianismo pois via nesse grupo uma ameaça a estabilidade do Império. A mensagem cristã não era política mas para o Império Romano era interpretado dessa forma. Dizer que Jesus era o Rei dos reis e Senhor dos senhores aos ouvidos romanos soava como insubordinação a César que era "deus" diante dos homens. César era a figura endeusada ao qual o povo romano e escravizado deveria jurar toda lealdade sem questionamento.

Como a política romana era proibir religiões problemáticas os cristãos começaram a ser discriminados, presos, violentados e confiscados os seus bens. Os discípulos de Jesus estavam sendo tratados com anti  sociais e como ameaças ao Império. A conduta romana era incompatível com a consciência cristã e impraticável para os discípulos. Como Jesus havia dito o que era de César era dele e o que era de Deus apenas de Deus. Não tinha como servir dois senhores. Como não viviam de acordo com os valores morais romanos, não cultuavam os deuses e não juravam lealdade ao imperador, deviam ser tratados de forma desumana.

A história nos ensina que um dos piores imperadores se chamava Nero. Esse sim foi cruel na perseguição e tortura aos cristãos. Um incêndio em Roma no ano 64 d.C. foi o estopim dessa crueldade. Nero acusou os cristãos desse incêndio e os usou como bode expiatório e justificativa para mais crueldade. Nero havia declarado que crer em Jesus era um crime contra Roma, que a Ceia do Senhor era uma prática de canibalismo, que os cultos eram reuniões secretas de subversão. Assim, os cristãos foram perseguidos, torturados, crucificados, queimados vivos com piche, vestidos com peles de animais para serem devorados por cães selvagens. Era uma perseguição e tortura implacável sem piedade.

Muitos cristãos começaram a enfraquecer-se na fé. Muitos pressentiam que não suportariam tamanha perseguição e sofrimento; muitos estavam desistindo de confirmar a fé em Jesus.

Esse é o contexto da epístola de Pedro. Eu me coloco na posição de Pedro e me pergunto que se fosse eu para escrever a uma igreja perseguida, torturada e com muitos irmãos morrendo de formas as mais inimagináveis, o que eu escreveria? O que dizer? Como encorajar esses irmãos?

Bem, Pedro já havia passado também por privações e açoites por causa da fé. Ele podia tratar sobre o tema do sofrimento por já ter experimentado esse caminho. Ele sabia que as lutas, sofrimentos e perseguições podem levar muitos a acreditar que Deus os abandonara e que nesse momento uma carta de alguém que realmente ama, se preocupa e se importa com os problemas dos outros pode ser um incentivador de esperança e ânimo no contexto de desespero e falência de fé. Pedro sabe que apesar de aparentes derrotas isso não deve abater a esperança de vida eterna que a nós foi conferido.

Por isso, esse Pedro aqui não lembra aquele Pedro inicial. Ele continua humano e limitado, porém, consciente da transcendência, ressurreição e vida eterna. Sua epístola trata sobre essa transcendência. Também há outros temas importantes no decorrer da leitura sobre a vida e conduta cristã.

Veja que ele inicia a esses dispersos como eleitos. Os cristãos haviam sido dispersos e fugitivos por causa da perseguição, mas Pedro inculca essa consciência neles: vocês são eleitos, escolhidos de Deus. A perseguição não anula o chamado, a escolha, a vocação sobre vocês. Jesus foi perseguido e vocês também serão, mas não deixarão de ser filhos amados e escolhidos pois há uma eleição sobre vocês.

Pedro diz aos irmãos que temos uma viva esperança; esperança porque houve ressurreição dentre os mortos. A afirmação da ressurreição, nesse contexto, era de suma importância. Em um momento de gente morrendo, perdendo a vida por causa de Cristo, Pedro sabia que a fé dos irmãos deveria ser alimentada com a viva esperança de que o Senhor havia derrotado a morte e, por isso, a morte não era o fim trágico da existência mas uma porta de saída para eternidade. Isto é, suportem se necessário até a morte pois vocês possuem vida eterna e os romanos só podem atingir o corpo de vocês, não a alma.
Ao qual Pedro mesmo diz que o fim, o resultado da fé é a salvação da alma de quem realmente creu.

Seria ótimo ficarmos livres de problemas, males e provações mas na vida cristã não é bem assim. Deus pode usar muitas dessas provações para que a nossa fé seja consistente. Pedro diz: "se necessário, sejais contristados por várias provações", qual o produto final desse contristar? Pedro também diz concluindo: "para confirmar o valor da vossa fé". Não é que Deus não saiba de algo e queira saber provando a vida de alguns, Ele já conhece tudo. Ele permite as provações para que nós possamos conhecer nossas limitações e fraquezas e nos apropriemos exclusivamente de Sua graça e poder.

Pedro diz que a mensagem da ressurreição, vida eterna, sofrimentos de Cristo e Sua glória foram profetizados pelos profetas que investigavam para poder entender aquilo que seria plenamente esclarecido somente à igreja de Jesus. Profecias das quais os profetas não compreendiam profundamente e que mesmo os anjos estão anelando entender e perscrutar.

A leitura continua...

Ore e peça ao Espírito Santo sabedoria e discernimento para a sequência da leitura de 1 Pedro. Com a ajuda do Consolador a leitura ficará mais emocionate e desafiadora.

Fábio Menen



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