sábado, 3 de novembro de 2012

"MUITAS PESSOAS ESTÃO SOFRENDO ABUSO ESPIRITUAL NAS IGREJAS" - MARÍLIA DE CAMARGO CÉSAR


A jornalista Marília de Camargo César fala sobre a experiência de ouvir os relatos de dor, decepção e humilhação para escrever o livro Feridos em Nome de Deus e como muitos evangélicos ainda preferem ignorar que tantos líderes usem a Bíblia para legitimar seus desmandos e violências

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                                                                Marcos Stefano  

Adriano era um jovem advogado de futuro promissor. Ao lado da esposa e dos filhos, frequentava uma igreja avivada em São Paulo e lá comandava reuniões de oração, dirigia cultos, dava estudos bíblicos. Tudo ia muito bem, até que ele decidiu abandonar o emprego para trabalhar em tempo integral na igreja. Sentindo o "chamado divino", ele consagrou sua vida para o trabalho eterno. Como poderia dar errado, se ele tinha apoio de seu pastor, "um autêntico homem de Deus"? As coisas começaram a mudar quando o pastor passou a chamá-lo para viagens internacionais, nas quais servia de tradutor. "Ficava incomodado com as compras dele. Ele gastava sem medo e em alto estilo", conta Adriano, que mantinha a família com uma pequena ajuda de custo. As mesas regaladas, os Louis Vuittons e os carrões japoneses foram só o começo. Logo vieram as ofensas e humilhações. A pressão tornou-se insuportável. Já não havia tempo para a família, mas sua mulher era ensinada a aceitar tudo em submissão. Mas Adriano não falava nada, afinal o pastor era                     "ungido do Senhor, um profeta". Ele só abriu os olhos quando a esposa o deixou e levou os dois filhos pequenos. Não tinha perdido apenas a fé nos pastores, mas um pouco da própria razão. Saiu da igreja e, confuso e aflito, engravidou uma paquera casual, com quem agora mora. "Minha vida desmoronou, fiquei sem chão", diz.

Ainda que pareçam absurdos, casos como o de Adriano são cada vez mais comuns nas igrejas evangélicas brasileiras. São os chamados "abusos espirituais", que acontecem quando a confiança autêntica e sincera do fiel em Deus é substituída pela submissão irracional à liderança. Na qualidade de profetas e mediadores incontestáveis dos favores divinos, esses pastores abusam emocionalmente, exploram financeiramente, mandam e desmandam na vida privada das pessoas. "Muita gente chega na igreja carente e é facilmente manipulada por esses líderes. Como não existe um relacionamento verdadeiro com Deus, quando o castelo de cartas desmorona deixa as feridas abertas pelo caminho", analisa a jornalista Marília de Camargo César, editora do jornal Valor Econômico.

E é nessas feridas que ela resolveu botar o dedo. Evangélica e atualmente frequentando ao lado do marido e das filhas a Igreja Batista da Água Branca, na capital paulista, Marília foi membro durante dez anos de uma comunidade avivada. Lá, testemunhou alguns desses abusos cometidos contra amigos. Elas foram a base para Feridos em Nome de Deus (Editora Mundo Cristão), livro-reportagem no qual ela denuncia uma triste realidade que acomete o meio protestante como um câncer. Para falar sobre o assunto, ela recebeu a reportagem de ECLÉSIA e, na entrevista que se segue, fez uma dura advertência: "Mesmo com tanta dor, ainda há quem prefira fechar os olhos para essa realidade".


ECLÉSIA - O que a motivou a fazer um livro sobre um assunto tão espinhoso como é esse do abuso espiritual?
Marília de Camargo César - Foi justamente a experiência que tive na igreja que frequentei durante dez anos. Fui criada em um lar evangélico e, aos 18 anos, cheguei a me batizar em uma igreja batista. Porém, no colegial e na faculdade, passei por fases de intensos questionamentos. As pessoas chegavam a me dizer que eu era rebelde, "da pá virada". Cheguei a me afastar um tempo da igreja, não concordava com muita coisa. Morei um tempo na Inglaterra e quando voltei percebi que era o tempo de voltar e me firmar com Deus. Já em São Paulo, eu e meu marido fomos convidados por uma prima dele para um culto na sua igreja. O louvor e a pregação mais emocionais foram uma experiência e tanto. Gostamos e ficamos por lá. Aprendi muita coisa boa nos anos em que estive nessa comunidade. Mas certo dia, um dos pastores foi afastado com a alegação de motivos de saúde. Logo começaram a surgir denúncias, casos e mais casos de abuso de poder. Enquanto aquele líder estava ali, na frente, as pessoas tinham medo de falar e serem taxadas de "bruxas" ou "feiticeiras". Era algo muito comum. Quando ele foi afastado, tiveram coragem de vir a público e denunciar. Ele estava mandando em todas as áreas de suas vidas particulares, oprimindo e ditando o dia a dia delas, sempre em nome de Deus, como um inquestionável profeta. Desobedecê-lo era o pior do pecados.

Você também foi ferida?
Não fui ferida nem abusada espiritualmente por nenhum pastor. Pessoalmente, não tenho queixas. Quando aquelas denúncias começaram a surgir, eu e muitos outros não entendemos nada. Parecia que tudo estava indo tão bem. Mas não estava. Tanto que a igreja acabou se dividindo. Acompanhei o caso de várias pessoas que passaram por dramas. Nas entrevistas, o medo que esses membros tinham do líder ficava escancarado. Esse já é um sintoma de que as coisas não vão bem, a igreja está doente: quando as pessoas têm medo de seu pastor. Quando ninguém pode questionar um ensino ou perguntar a respeito de uma decisão é porque a relação vai mal. O pastorado é um das vocações mais nobres que existem e é muito difícil cuidar de pessoas. Mas o pastor não é uma super estrela. Deve ser uma pessoa que se coloca na mesma altura do membro e estar aberto e disponível sempre para o diálogo.

Todos os casos que você relata são dessa igreja?
Não. Comecei por lá, mas quis ampliar o assunto, pois percebi como o problema estava no meio cristão em geral. Aquela minha igreja tinha apenas um certo tipo de abuso, as histórias começaram a ficar parecidas, repetir-se. Infelizmente, não foi difícil encontrar outros csos em muitas outras igrejas. Os feridos foram aparecendo, querendo contar suas histórias.

Na introdução, a senhora menciona que esse é o tipo de obra que seria melhor se nunca precisasse ser escrita. Foi muito difícil ouvir tantos casos de dor? Como se sentiu?
Foi realmente horrível. Eu chorava muito com as pessoas, enquanto elas relembravam as situações de abuso. Não é nada trivial você ser machucado por uma figura que deveria estar ajudando na sua restauração. Acho que idealizamos demais o pastor, e aí está outro problema. O pastor é a figura do apoio, do ensino manso, do abraço, do amparo. Tudo bem, tem o outro lado, da vara, citada até na Bíblia como instrumento usado para guiar o rebanho. Só que é de se esperar que o objetivo do líder seja fazer isso para o bem das pessoas, amorosamente e não na base da porrada, com o perdão da expressão. O que percebi é que muitos líderes confundem seus papéis e trocam a autoridade espiritual, baseada na própria obediência aos princípios da Palavra de Deus, pelo uso da força, um governo de domínio, com controle das decisões pessoais como única forma das pessoas fazerem o que eles queiram. Na base do cabresto mesmo. Eles diziam que negócios as pessoas deveriam fazer, com quem deveriam ou não se casar, se podiam trabalhar em certo lugar. A pessoa não podia pensar por conta própria.

Que situações podem ser consideradas de abuso espiritual?
Primeiro, para ser considerado um abuso espiritual, Deus tem que estar no meio da história. O que quero dizer com isso? O líder usa o nome de Deus ou a Bíblia, a Palavra, para legitimar suas ordens, aquilo que ele deseja que ela faça. A motivação, nesses casos, não é muito clara e nada pura. Por exemplo, usar citações de passagens fora de contexto. Tem um texto que diz "aquele que abençoa o profeta, recebe galardão de profeta". Isso é um mantra em certas igrejas. Costuma ser usado para pedir doações e ofertas. Se a pessoa está meio reticente, ela é desafiada a ter mais fé, o que, para quem pede, significa que a pessoa deve dar uma contribuição além de suas possibilidades financeiras, acreditando que Deus vai prover condições econômicas para cumprir o voto e ainda ficar com outro tanto. Essa oferta, geralmente, é destinada não para a igreja, mas especificamente para o pastor. Já vi muitos preencherem cheques e colocar no bolso do pastor. As pessoas são ensinadas a isso, de tal forma que, mesmo quando não é pedido, dão essa oferta. Outra: muitos desses ensinos não são pregados do púlpito. Se fossem, alguém certamente acabaria estranhando. São ministrados no dia a dia, às vezes, individualmente. E a pessoa faz o sacrifício. Até seu relacionamento com Deus torna-se deturpado, pois ela aprende a fazer barganha com o Senhor. Chega a ser uma Teologia da Prosperidade disfarçada. Não é pregada como em algumas igrejas neopentecostais que ensinam o fiel a mandar em Deus, mas é do mesmo tipo, porém, bem mais sutil.

Quais são os principais tipos de abuso e quais são suas características?
Posso falar em cima da reportagem que fiz, já que não sou uma teóloga, uma estudiosa que sistematizou a questão, mas uma jornalista. Por trás desses abusos existe um enorme legalismo. Os líderes estão retomando um apego enorme a regras e leis. Trata-se de uma cultura em que o fiel é ensinado a ter prática exemplar e irretocável, baseada em ações e no esforço por fazer certas coisas como eles ensinam. É isso que garante a salvação ou dá direito a recompensas. Isso também acontece porque muitas igrejas são comunidades fechadas em si mesmas, que olham para os de fora como gente capaz de trazer contaminação espiritual. Esse exclusivismo, essa doutrinação de que só eles, com seus ensinos e costumes peculiares, estão com a verdade e todo o resto está errado, também permeia as histórias de abuso. Uma das pessoas que entrevistei para o livro foi uma missionária da Igreja Batista Regular, que apanhava do marido. O detalhe é que o esposo era pastor, aparentemente um verdadeiro servo do Senhor, mas que tinha problemas emocionais mal resolvidos, era extremamente violento e batia muito na mulher. Ela chegou a ir para o hospital com problemas sérios por causa dessas surras. A mulher ia se aconselhar com outro pastor, da mesma denominação, que chegava ao ponto de bater a Bíblia em sua cabeça e dizer: "Mulher, você precisa se submeter. Você deve estar fazendo algo que está diminuindo seu marido. Deve estar tomando as rédeas da casa. Tem que fazer ele se sentir mais homem". Até pelo que eles chamam de "lei do homem", os códigos Civil e Penal, isso é crime. E, se você é pastor, fica sabendo de tal caso e não denuncia, passa a ser cúmplice. Falta humanidade e sobra legalismo, farisaísmo para esses líderes. Eles se prendem a suas interpretações estreitas e literais da Bíblia e se esquecem da essência do Evangelho. A mulher que me contou essa história, disse no final da entrevista: "Se ficasse naquela igreja, estaria apanhando até hoje". É essa condição de dignidade que Jesus quer para seus filhos?

De todas as histórias que você ouviu, qual foi a que mais a impressionou?
Entrevistei uma moça que tinha uma doença degenerativa, incurável. Ela frequentou uma igreja neopentecostal durante muitos anos buscando sua cura. Foi ensinada que "pelas pisaduras do Senhor, já tinha sido curada" e que "deveria tomar posse disso pela fé". Ou seja, viver como se já tivesse recebido a graça, até a cura chegar definitivamente. Essa moça fez isso durante um bom tempo. Ela se apegou a essa palavra, teve o apoio dos irmãos da igreja. Ela estava carente de atenção e aquilo, somado a tão poderosa palavra, tornou-se irresistível. Ela tomou posse da promessa, mas nunca recebeu a cura. Chegou ao ponto de abandonar os remédios que retardavam os efeitos da miastenia grave {Nota da Redação: uma doença autoimune que acarreta fraqueza muscular}. O que o líder não sabia é que ela tinha feridas emocionais muito antigas, provavelmente associadas a sua doença. De que adiantava ela ficar decretando sua cura, uma coisa totalmente superficial, se lá no fundo de sua alma havia tanto a ser tratado? A tal palavra veio para abafar, em vez de permitir colocar para fora. Esconder, em vez de resolver. Como não foi curada, as pessoas começaram a dizer que era porque ela não tinha fé, que estava em pecado ou estava abrindo uma brecha para Satanás em sua vida. Ela entrou em uma profunda crise existencial e passou a questionar se Deus a amava mesmo. Afinal, começou a pensar ela, "fora Deus que permitiu que o demônio tivesse acesso a minha vida só porque não consigo ser curada". No fim, ela só melhorou quando começou a fazer terapia.

Apesar de certo tom de denúncia  de contar vários casos, seu livro não cita o nome de igrejas e nem coloca o nome verdadeiro das pessoas. Por quê? Não existe o risco de haver uma generalização e falsa impressão de que todas as igrejas são iguais?
Não citei nomes porque quis proteger as pessoas da exposição. As histórias são reais e dolorosas. A condição para escrever a obra era essa. Também não citei nomes de igrejas pelo tremendo respeito que tenho às denominações e à Igreja, enquanto corpo espiritual de Cristo. Não defendo e nem apoio quem defende que a pessoa pode viver sem igreja. Mesmo que o pastor pise na bola, isso não é motivo para não congregar. Precisamos nos alimentar do convívio com as pessoas e da Palavra, e fazemos isso nos cultos e reuniões. Por isso, preferi não citar nomes. Não quis denunciar A ou B nem fazer sensacionalismo. Apenas mostrar a realidade de como alguns tipos de evangelho podem excluir as pessoas. É mais um alerta.

Recentemente, ECLÉSIA trouxe como tema de capa os escândalos que maculam a imagem da Igreja evangélica. Especialistas dizem que nunca houve tanta gente ferida e ministérios destruídos como hoje. Em sua opinião, o que leva a tanto abuso espiritual?
 Há várias formas de ler isso. Primeiro, está havendo um enorme crescimento da população evangélica no Brasil por conta da exposição na mídia. Rádio e principalmente televisão são muito usados por igrejas e ministérios. Podemos criticar o tipo de mensagem que está sendo divulgada, mas bem ou mal o nome de Jesus é anunciado. cristo é pregado, embora Mamom esteja no jogo também. Muita gente está chegando, atraída por uma propaganda nem sempre saudável, já que o Evangelho implica sofrimento também, renúncia, o lado da cruz. Como extensão, as igrejas se multiplicam, o trabalho aumenta e começa a faltar mão de obra. hoje existe uma demanda enorme por obreiros e pastores nas igrejas. O problema é que os seminaristas chegam muito mal preparados, muito jovens. Eles chegam nas igrejas sem o devido preparo, sem terem cursado um bom seminário, desenvolvido sua vocação. Não falo apenas de formação melhor em termos de conhecimento teológicos, mas de experiência pessoal de vida e de caráter transformado. Outra questão é a teologia triunfalista que está sendo pregada. Por fim, há líderes buscando sucesso, dinheiro, poder. O amor a Deus e ao próximo ficam em segundo plano. Isso não tende a acabar muito bem. Ricardo agreste, uma das fontes que ouvi, fala justamente dessa questão: como é difícil para um indivíduo que sempre auxiliou, ficou em segundo plano, ajudando nos bastidores, de repente, ser alçado à posição de líder, tornar-se importante. Todos querem ouvi-lo, estar ao seu lado. É uma tentação.

Apesar de haver casos em todas as igrejas, a impressão que dá é que no meio pentecostal e neopentecostal a situação é mais grave. Como explicar isso? Dons e profecias são usados também para corromper?
Não encontrei nenhuma pesquisa falando sobre isso, mas os pastores, estudiosos e líderes cristãos sérios que entrevistei confirmaram que no meio neopentecostal há espaço maior para a ocorrência de abuso. Isso acontece porque essas igrejas não prestam contas a ninguém e há um líder com autoridade suprema. Geralmente essas igrejas começam como reuniões promovidas por uma pessoa ou um casal em sua casa, vão crescendo e depois, mesmo que existam conselhos de anciãos ou de presbíteros para dar suas opiniões ao líder ou ao casal, o que prevalece é a posição do presidente, do fundador. Mesmo que exista uma aparência de democracia, quando ele decide, todos vão atrás. É algo meio messiânico. E, se alguém se levanta como voz contrária é massacrado pelos demais. Nesses conselhos, a única coisa proibida é discordar do líder. O fundador, o líder se acha no direito de impor suas opiniões. Mas há outros fatores: as teologias, como a da Prosperidade é um. Se você dá tanta ênfase ao dinheiro, uma hora ele te domina. Você terá que esconder dólares na Bíblia para manter seu estilo de vida. O espaço para a corrupção é enorme.

Os casos contados no livro chocam e quando se lê é inevitável o pensamento: "como fulano deixou a coisa chegar a tal ponto e durar tanto tempo?". Por que a pessoa demora tanto tempo para perceber que está sendo vítima e mais tempo ainda para sair dessa?
O abuso não nasce da noite para o dia. A ovelha constrói com seu líder um relacionamento, uma amizade; ela deposita confiança naquela pessoa, conta-lhe segredos, desabafa, pede conselhos para problemas pessoais difíceis e, num primeiro momento, encontra aquele pastor ou pastora uma figura que o acolhe e conforta. Se este pastor for um ser humano bem resolvido teológica e emocionalmente, vai saber que neste tipo de relacionamento precisa deixar claro que ocupa um papel de conselheiro, de referência ética, não de super-herói. O problema surge, na minha opinião, quando o pastor veste a capa de super-herói, ou de profeta de Deus, de Ungido do Senhor, uma pessoa que sempre tem recados divinamente inspirados para a sua congregação. O problema é quando ele acredita nesse papel - por carência, talvez, por ignorância teológica ou em alguns casos por ser um aproveitador mesmo. Ele usa a Bíblia fora de contexto para legitimar a sua figura onipotente. O fiel, que talvez tenha dado os primeiros passos no Evangelho caminhando com esse pastor, não sabe que aquela teologia é ruim. Demora para perceber, muitas vezes demora para descobrir que há outras leituras menos perigosas das Escrituras. Muitos entrevistados do livro disseram: "Hoje estou lendo a Bíblia com novos olhos, não de uma forma distorcida como lia antes". Isso é positivo.

Não é apenas na esfera da ação da liderança para com os membros que os abusos acontecem. Também nos negócios e na política. A Igreja perdeu seus referenciais éticos e sua visão de construir discípulos?
Os problemas éticos na Igreja de Cristo são antigos, basta ler as cartas do apóstolo Paulo, o Apocalipse de João, entre outras passagens bíblicas, para enxergar isso. Costumamos idealizar a igreja como se fosse possível construir uma igreja perfeita, sem manchas, uma noiva de vestido branco aqui na Terra - isso não existe e até onde entendo - não existirá enquanto o Senhor Jesus não reinar plenamente sobre nós. Ocorre que a opinião pública se volta para os evangélicos porque estamos mais expostos - basta ligar o rádio ou a televisão e ali estão os mercadores a pedir dinheiro em nome de Cristo. Então, como tudo que fica mais exposto, fica também passível de críticas e estilingadas. Há muitos bons pastores, boas referências éticas, aqueles que não se corromperam e não se venderam ao mercado da fé. Há igrejas fazendo um trabalho social relevante. Há (pouquíssimos) políticos evangélicos que podem ser tomados por referência, entre os quais a senadora Marina Silva. Mas, infelizmente, no campo da política, é difícil lembrar de muitos outros nomes.

O que fazer para combater esses abusos espirituais na Igreja?
A maturidade espiritual depende de anos de caminhada, e é importante cercar-se de líderes com um bom histórico pessoal, com uma boa formação. É preciso estar alerta para ver se o pastor é uma pessoa que se deixa questionar ou se é uma figura autocrática. É importante reparar se o ambiente da igreja favorece a comunhão com outras comunidades ou se ela está fechada em si mesma, ensimesmada, se virou um gueto onde todos falam um mesmo jargão, e acham que estar com o povo "do mundo" pode nos contaminar espiritualmente. Este é um discurso esdrúxulo que escutei bastante - é totalmente contrário a passagem que diz que seríamos um povo conhecido pelo amor. Outra forma de evitar uma igreja com potencial para o abuso é ver se os pastores são pastoreados  por outros pastores, se prestam contas de suas decisões a alguém. Em geral, o pastor que abusa costuma ser bastante independente em suas decisões.

Fonte: Revista Eclésia - Edição 137

Transcrito por: Fábio Menen