sábado, 20 de fevereiro de 2010

A IGREJA ORDINÁRIA


A vida cristã na Igreja deve ser simples em sua forma de expressar a graça de Deus.

Frequentemente, pensamos em Igreja quando fazemos fórmulas infalíveis de sucesso, formas incríveis de crescimento, uma estrutura de arrecadamento e gerenciamento, etc. Também pensamos que a Igreja certa é aquela ao qual não há problemas e que eventualmente não ocorrerá situações de embaraço.

A Igreja é feita de seres humanos. Seres humanos com idiossincrasias. A leitura de 1 e 2 Coríntios nos apresenta uma igreja problemática.

Se formos honestos poderemos dizer que nossa igreja é como a maioria das demais denominações, que carregam os mesmos dilemas e problemas. Sim, em minha igreja há intrigas, gente que adultera, que mentem, gente que não obedece a palavra de Deus; há aqueles que oram, que buscam a Deus seriamente, que estão a serviço do Reino de Deus, que se arrependem e voltam ao primeiro amor...a Igreja é feita de seres humanos!

Saber teoricamente isso, nada significa, pois o modelo que se espera das pessoas da Igreja é que elas sejam, aos olhos de todos, impecáveis. Isso gera uma doença bem mais profunda.

Se a minha igreja é assim eu posso dizer então: "minha igreja é genuinamente bíblica!" Novamente leiam as epístolas de Paulo e vocês entenderão.

Os pastores, obreiros, ministros e membros que ali estão, todos vivem debaixo das mesmas contigências da vida. Acho interessante a ordem de Jesus ao dizer que não devemos julgar o próximo, pois na medida que julgarmos, seremos julgados.

Não julgo, apenas constato e externo o que vejo.

Por isso, na perspectiva evangélica, contar bençãos deve ser contos de fatos extraordinários, para fazer diferença entre os que vivem ordinariamente. Afinal, bençãos que não sejam extravagantes não serão edificantes para os ouvintes. Quantas vezes muitos se negam a "contar uma benção" já que, nada absolutamente extraordinário aconteceu!?

Se não houve um livramento de morte, um milagre que não se explica, visões angelicais, curas miraculosas...não há nada para se falar. Tudo tem que ser extraordinário.

Creio em milagres, creio em curas, creio que Deus é soberano e que faz coisas impensáveis. Isso é teologia pura!

Agora, o que percebo é que estamos esquecendo a graça do ordinário.

Muitos cristãos estão mais preocupados em conhecer histórias, biografias e vidas daqueles que fazem sucesso em livros, igrejas, congressos, cruzadas, do que, em se aprofundar de fato na vida dos seres que compõem as histórias da Bíblia. Nossos heróis não são bíblicos, eles são hodiernos, ricos, glamourosos, extravagantes e palestrantes de sucesso. Esses falam sobre como suas igrejas passaram de cem membros para 5 mil membros; igrejas bem sucedidas e pomposas; estratégias de arrecadamentos invejáveis. Se você procurar nas livrarias evangélicas saberá que não estou inventando nada. Pura estratégia de vendas e marketing.

Agora, imaginem que com essa mentalidade é impossível permanecer em uma Igreja que prega com Graça, ministra com simplicidade e permanece na presença de Deus em dependência absoluta. Afinal, para esses, essa Igreja deve ser muito fria em relação aos picantes gostos pentecostais desse indivíduo.

Olhem para a mídia das apresentações evangélicas e me digam, o Evangelho de Jesus está sendo pregado ou apenas as demostrações de poder dessa igreja para a adesão de massas? A Cruz está sendo afirmada? O retorno de Cristo está sendo afirmado? A Santidade está sendo afirmada? Ou apenas o poder de Deus está sendo exposto, sem prática alguma de consciência cristã?

Admiram a fé de Abraão, mas rejeitam e ignoram sua fraqueza. Falam sobre Jacó e sua vitória com o anjo, mas negam o espírito manipulador que ele tinha e que precisava ser tratado.

Deus é o Deus da realidade. Nos faz nos enxergar por dentro; olhar-nos com os olhos da Santidade. Não devemos querer apenas o extraordinário, mas o ordinário em nossa jornada cristã. A ênfase no extraordinário adoeceu o homem.

Ao lermos as Escrituras, vemos que Davi, Jacó, Isaque e muitos outros tiveram problemas em seus casamentos, na criação de filhos, na vida profissional e na sua vida com Deus. A Igreja bíblica também enfrentou diversos males. Não devemos extraordinarizá-la e esvaziarmos de seus conteúdos ordinários; seria falsificar o que a igreja é.

Você me pergunta: "Há espaço para o extraordinário"? Claro que há! Deus é extraordinário, mas não nos remete apenas para esse nível de existência, e deseja que nos acomodemos às coisas puras e simples da vida. Viva a simplicidade do ordinário que naturalmente o extraordinário acompanhará os que buscam a face de Deus.

Precisamos encontrar a vida em Cristo em lugares ordinários...no quarto, na rua, na cozinha, no ônibus - lugares que esteticamente não são extras - reconhecendo que a manifestação de Sua presença não se confina a eventos e a multidões.

Para o nosso crescimento na fé, não precisamos de mega shows da fé, igrejas espetaculares, líderes, pastores, obreiros que não partilham da vida comum. Oração, comunhão com Deus e leitura dos Evangelhos nos remeterá à graça do ordinário.

A igreja existe para servir a Deus e aos seus irmãos no amor de Cristo.

Pensem nisso,

Fábio Menen

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