segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A TIRANIA DO VAZIO II - O FILHO PRÓDIGO



LUCAS 15:11-24


11
¶ E disse: Um certo homem tinha dois filhos;
12
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
13
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
14
E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
15
E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
16
E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
17
E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
18
Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;
19
Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.
20
E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
21
E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho.
22
Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;
23
E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;
24
Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.

Essa parábola de Jesus fala sobre o filho que não suportava mais a idéia de esperar a morte de seu pai para desfrutar de sua herança. Tornara-se inadiável o sair de casa e curtir freneticamente as delícias da vida. O pai ainda não morrera, isso era o grande obstáculo rumo a liberdade que esse filho almejava. Esse jovem em sua casa achava sua vida monótona. Em sua mente, enquanto ele ali estivesse, nunca poderia se sentir realizado, pleno e satisfeito. Era necessário encontrar um propósito para a sua vida e diante das regulamentações, regrinhas e proibições ele decide partir.

O pai ficou abalado. Era seu filho quem partia e que estaria a mercê das contingências da vida. O pai sabia que à força ele nunca seria um filho verdadeiro; um filho que se torna filho forçado, não é filho. O pai sabe que o filho enganado pensa que os bens materiais o fará completo e tornará ele o homem que deseja ser. O pai bem que pela autoridade poderia fazê-lo voltar atrás, retroceder; mas sabe que se o filho assim queria, melhor ele ter suas próprias experiências longe da relação paternal.

Assim o filho vai... Liberdade! Possibilidades! Uma vida completamente diferente e realizada! Um jovem livre!

Não havia mais comunicação entre ele e seu pai; considerava seu pai como morto e assim procedia dia a dia. Sua intenção era satisfazer-se com o esbanjamento de seus recursos. Começou a viver e a procurar sentido para a sua vida.

O próprio dinheiro que possuía era uma espécie de segurança e realização. As muitas baladas, músicas, encontros, se sucederam. As amizades aumentavam enquanto ele esbanjava juventude e liberdade, mas havia a necessidade de criar meios e formas de satisfação. A satisfação não era garantida. Para a sua surpresa a vida não o estava recompensando na forma como ele esperava. Quanto mais possuía, mais desejava; quanto mais amigos pudesse ter, mais necessidade de afirmação entre outras pessoas seu ser clamava; por mais mulheres que pudesse ter e bocas para se beijar, mesmo assim perpetuava a necessidade de ter sentido em sua existência. Gradualmente começara a perceber que a vida perdera a graça, tudo estava se tornando fugaz.

Na verdade ele drenou todas as suas energias, esgotou todos os seus recursos. As amizades, as emoções, o sexos...definhavam sua alma. Sua conta corrente estava negativa. Esgotaram-se todos os recursos. Esgotou os apetites, esgotou os amigos, esgotou o sexo, esgotou tudo; para a sua surpresa o que ele sonhara não acontecera. Seus sonhos ruíram e não via mais chance de sair daquela situação caótica e daquele marasmo.

Esse jovem talvez tenha se perguntado como ele permitira esgotar sua vida dessa forma. Afinal, não era essa a intenção. O vazio estava presente, os desejos não supriram o esperado.

Esse jovem se afastara de seu pai, concomitantemente afastava-se de si mesmo e do sentido da vida. Estava desnorteado, confuso, cansado, desalentado e com fome. Não tinha notícias de seu pai e de ninguém de sua ex-casa. Estava à mingua e só.

Essa história foi contada por um Judeu (Jesus) para outros Judeus. No Judaísmo, os porcos são considerados animais imundos. Jesus diz que ele, devido a fome, foi cuidar de manadas de porcos; significando que ele havia descido ao sub mundo mesmo, perdera sua dignidade. Outrora cercado de bens e de aconchegos, agora fatidicamente invejando porcos. Ele com fome, enquanto os porcos se lambuzavam e se satisfaziam com a comida. Não havia mais os amigos, as rodas de bebidas, as garotas, os confortos e dinheiro. Qual o sentido da vida em viver assim? Sem pai, sem lar, alegria e sem vida?

Esse garoto resolveu sair de casa para curtir e gozar a vida, mas a vida enganosamente e sarcástica era quem estava gozando dele. A ironia dessa vida era que ele havia saído de seu lar para viver uma liberdade que não aconteceu, pelo contrário, o tornou escravo de seus próprios erros.

Por que não amamos viver? Por que há vazio em nós? Por que olhamos a vida e a pintamos de uma forma tão idiota, sem graça e sem sentido?

Quando estamos longe da casa e da presença do Pai a vida que levamos se torna pesaroso e com um fardo extremamente difícil de carregar. É como o personagem Cristão do filme O PEREGRINO. Há um fardo enorme em suas costas e ele não suportando mais esse fardo procura algo que o livre dessa agonia. Só no encontro com a CRUZ é que o fardo cai de seus ombros.

A maioria dos seres humanos já sofreu e sofre a angústia de que quanto maior é o numero de coisas que se deseja agarrar, provar e sentir, mais vazios eles se tornam. Por isso, há uma quantidade enorme de pessoas que estão beirando o suicídio, gastando dinheiro em remédios, clínicas e medicamentos.

Houve uma virada na consciência desse jovem. O texto diz que ele “caiu em si”. Esse “cair em si” significou uma mudança de rota no caminho desse jovem. É provável que ele tenha sido influenciado pela recordação do amor incondicional de seu pai, pois é dele que ele lembra e faz referência: “...irei ter com o meu pai...”. O amor introduziu uma esperança em sua vida. E foi o amor de seu pai que o fez levantar e sair daquele lugar ao qual ele não foi criado para estar.

Penso que naquela viagem regressiva de volta ao verdadeiro lar deve ter sido difícil. Poderia ele pensar: “com que cara eu vou chegar lá?” “como irão me recepcionar meus amigos e família?”.

O que se ouve numa situação dessa é: Você não presta mesmo! Não adianta, você nasceu para desgraçar sua família e você mesmo!

Quando o Pai o vê, nos diz as Escrituras que esse pai se compadece de ver seu filho naquela situação. Estava mal vestido, fedendo, doente e ferido. O filho necessitava dizer algo: “Pai, errei! Pequei contra ti, não sou digno de ser chamado teu filho; me aceita pelo menos como um dos teus servos, trabalhadores”.

Não era as palavras que interessavam ao Pai, mas o próprio filho. Naquele momento o Pai concedeu-lhe Graça e este foi introduzido como filho e herdeiro novamente.

Sabemos que o Pai é Deus. O filho somos nós. Todos nós. O personagem pode ser eu, você. O que nada muda aqui é o amor reconciliador que Deus sente por nós.

Pensem nisso!

2 comentários:

  1. Verdadeiríssimo, assino em baixo!
    Um abraço,
    Daniela

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  2. E aí Dani! Tudo bem?

    Sinceramente escrevi esse pequeno texto com um aperto em meu coração, mas Deus concedeu-me Graça e estou melhor agora.

    Valeu pela visita...estou lhe devendo uma também.

    Grande abraço no amor de Cristo.

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