terça-feira, 13 de outubro de 2009

PARA LER E PENSAR - AUGUSTO DOS ANJOS



O LAMENTO DAS COISAS

Triste, a escutar, pancada por pancada
A sucessividade dos segundos
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos
O choro da Energia abandonada!
E a dor da Força desaproveitada
- O cantochão dos dínamos profundos
Que, podendo mover milhões de mundos
Jazem ainda na estática do Nada!
É o soluço da forma ainda imprecisa...
Da transcendência que se não realiza
Da luz que não chegou a ser lampejo...
E é em suma, o subconsciente aí formidando

O MEU NIRVANA

No alheamento da obscura forma humana
De que, pensando, me desencarcero
Foi que eu, num grito de emoção, sincero
Encontrei, afinal, o meu Nirvana!
Nessa manumissão schopenhauereana
Onde a Vida do humano aspecto fero
Se desarraiga, eu, feito força, impero
Na imanência da Idéia Soberana!
Destruída a sensação que oriunda fora
Do tato - ínfima antena aferidora
Destas tegumentárias mãos plebéias
Gozo o prazer, que os anos não carcomem
De haver trocado a minha forma de homem
Pela imortalidade das Idéias!

HINO À DOR

Dor, saúde dos seres que se fanam
Riqueza da alma, psíquico tesouro
Alegria das glândulas do choro
De onde todas as lágrimas emanam
És suprema! Os meus átomos se ufanam
Da pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro
Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro
De que as próprias desgraças se engalanam!
Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato
Com os corpúsculos mágicos do tato
Prendo a orquestra de chamas que executas
E, assim, sem convulsão que me alvoroce
Minha maior ventura é estar de posse
De tuas claridades absolutas!

A NOITE

A nebulosidade ameaçadora
Tolda o éter, mancha a gleba, agride os rios
E urde amplas teias de carvões sombrios
No ar que álacre e radiante, há instantes, fora
A água transubstancia-se. A onda estoura
Na negridão do oceano e entre os navios
Troa bárbara zoada de ais bravios
Extraordinariamente atordoadora
À custódia do anímico registro
A planetária escuridão se anexa
Somente, iguais a espiões que acordam cedo
Ficam brilhando com fulgor sinistro
Dentro da treva onímoda e complexa
Os olhos fundos dos que estão com medo!
FÁBIO MENEN

Um comentário:

  1. Nossssaaaaaaa!
    Mandou bem de novo!
    Oh mente inspirada...
    Obrigada pelos parabéns pelo meu aniversário, aceito sim!rs...
    Que Deus o abençoe.
    Um abraço,
    Dani Martins

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